Desenho para um texto de Abel Neves, na Cão Celeste #10.
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Andamos a mamar. O que é a esperança se tudo lhe dói por todo o lado,
sem remédio? Talvez se conseguir respirar profundamente, aceitar e
adormecer. Deve ser isso, mas há quem diga que a esperança é uma
porca ao vê-la por aí nas enfermarias dos hospitais fazendo o número
triste dos palhaços, bamboleando-se com um rabo grande e mole e
abrindo muito a boca, num riso alvar, a cara ressequida da pintura a
parecer uma abóbora fatela da festa das bruxas. Não se morre com
esperança. Ela acaba aí, mesmo se andou a insinuar-se no cronómetro
dos atletas e foi pensada como estimulante. Anos a fio com a esperança
na ponta da língua e agora, se o desamparo é absoluto, compreende-se
que foi um veneno mortal porque de tão procurada os garimpeiros,
descrentes, caem exaustos, não pronunciando sequer o seu nome.
Continuamos. A porca deita-se e mostra as suas tetas.